No campo
O que a luz tem a ver com o bem-estar animal?

No universo da pecuária leiteira, cada detalhe influencia o bem-estar e a produtividade dos animais. Entre os fatores de manejo muitas vezes subestimados, a iluminação desempenha um papel essencial. A ciência mostra que a qualidade, a intensidade e a duração da luz afetam diretamente a fisiologia, o comportamento e o desempenho das vacas leiteiras. Mas como isso acontece na prática?
Ritmos circadianos: o relógio biológico das vacas
Assim como em humanos, os bovinos são regulados por ritmos circadianos – ciclos biológicos de aproximadamente 24 horas, guiados principalmente pelo ciclo claro-escuro. Esses ritmos controlam desde o metabolismo até a produção hormonal.
Estudos clássicos de Dahl et al. (2000) mostraram que vacas leiteiras expostas a 16 a 18 horas de luz moderada (150–200 lux) produzem até 10% mais leite do que aquelas mantidas em períodos mais curtos de iluminação. Isso ocorre porque a luminosidade influencia a produção de melatonina e prolactina, hormônios ligados ao descanso, à reprodução e à produção de leite.
Manter os animais em luz constante, sem escuridão, pode desregular esses mecanismos, comprometendo o bem-estar. Por isso, tanto a intensidade quanto a duração da luz devem ser ajustadas de acordo com a categoria do rebanho.
Intensidade e duração da luz: o que a ciência recomenda
- Vacas em lactação: 16 horas de luz (150–200 lux) e 8 horas de escuridão. Essa prática estimula maior ingestão de alimento, melhora a eficiência metabólica e aumenta a produção de leite.
- Vacas secas: 8 horas de luz e 16 horas de escuridão. Esse manejo permite que o organismo recupere energia, favorecendo a saúde da glândula mamária para a próxima lactação (Miller et al., 2019).
- Ambiente de estábulo: A luz natural em pastagens pode variar de 10.000 a 100.000 lux em dias ensolarados, suficiente para atender às necessidades. Já em barracões fechados, é comum registrar valores abaixo de 100 lux, exigindo complementação com lâmpadas fluorescentes ou LED.
Além disso, o uso de luz vermelha durante manejos noturnos é uma prática validada cientificamente: vacas não percebem esse espectro, o que mantém a sensação de escuridão, mesmo quando os trabalhadores precisam de visibilidade (Schüller et al., 2020).
Exemplos práticos em propriedades de diferentes portes
- Pequenas propriedades familiares (até 50 vacas): O simples ato de instalar janelas adicionais ou claraboias já garante melhor entrada de luz natural, reduzindo a necessidade de lâmpadas artificiais. Uma pequena fazenda em Minas Gerais relatou aumento de 8% na produção após adotar claraboias e lâmpadas LED no estábulo.
- Médias propriedades (100 a 300 vacas): Produtores que implantaram programas de fotoperíodo controlado (16h luz/8h escuro) observaram melhor desempenho reprodutivo e menor intervalo entre partos, conforme relatado em pesquisas da University of Florida.
- Grandes fazendas (mais de 500 vacas): Em sistemas de confinamento total, como free-stall, empresas do setor já adotam sensores de luminosidade automatizados que ajustam a intensidade da iluminação ao longo do dia. Isso garante consistência no manejo da luz, reduz custos energéticos e melhora a performance produtiva.
Conclusão: luz como ferramenta de manejo inteligente
A iluminação é mais do que uma questão de visibilidade: é um fator de bem-estar, saúde e produtividade. Ajustar a intensidade e a duração da luz conforme as fases produtivas do rebanho é uma estratégia de baixo custo em comparação aos ganhos que pode gerar.
Propriedades de todos os tamanhos podem se beneficiar – seja com soluções simples, como a abertura de janelas, ou com sistemas avançados de iluminação controlada. O importante é compreender que vacas mais confortáveis são vacas mais produtivas.A luz, portanto, não deve ser vista apenas como recurso físico, mas como aliada estratégica para a sustentabilidade da produção de leite.
--> Leia também: https://www.piracanjuba.com.br/dicas/no-campo/bem-estar-e-comportamento-animal-cuidar-e-essencial
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Confira os artigos científicos e referências técnicas:
Dahl, G. E., Buchanan, B. A., & Tucker, H. A. (2000). Photoperiodic effects on dairy cattle: A review. Journal of Dairy Science, 83(4), 885–893.
Miller, A. R., et al. (2019). Effects of long-day photoperiod on dairy cow performance during the dry period. Journal of Dairy Science, 102(5), 4501–4512.
Schüller, L. K., et al. (2020). Impact of different light spectra on dairy cows’ circadian rhythms and milk production. Animal, 14(S1), s73–s81



PRODUTOS
Conheça nossos produtos
DICAS
Conteúdos exclusivos
RECEITAS
Queremos inspirar você! Por isso, reunimos receitas deliciosas com os melhores ingredientes.
SERVIÇOS
Você que é cliente, consumidor, fornecedor ou representante, esse espaço é para você!