Bezerros e a escolha do leite no aleitamento

Na pecuária leiteira, a fase de criação de bezerros é considerada uma das mais críticas do sistema produtivo, tanto pelo impacto no desenvolvimento futuro dos animais quanto pelos custos envolvidos. Estima-se que apenas a dieta líquida represente de 70% a 80% do custo total nessa fase inicial (Santos & Bittar, 2016). 

Após o nascimento, o fornecimento adequado de colostro é o primeiro ponto determinante para a saúde da bezerra. Recomenda-se ofertar aproximadamente 10% do peso vivo do animal em colostro de boa qualidade nas primeiras seis horas de vida, período em que ocorre maior eficiência de absorção das imunoglobulinas pelo intestino. Esse manejo está diretamente relacionado à transferência de imunidade passiva e à redução de morbidades neonatais. 

Na sequência, entre o 2º e o 5º dia de vida, é comum que os animais recebam leite integral proveniente da ordenha. A partir desse ponto, a estratégia nutricional passa a ser definida de acordo com os objetivos da propriedade, contemplando volume e período pré-determinados de fornecimento de dieta líquida e sólida. 

Leite integral e sucedâneos: opções para a dieta líquida 

Leite integral 

O leite integral pode ser utilizado no aleitamento de bezerras desde que apresentando boa composição de proteína e gordura. A temperatura de fornecimento deve ser mantida entre 35 °C e 37 °C para favorecer a digestibilidade. 

Apesar de seu alto valor nutricional, o uso do leite integral apresenta alguns desafios, como: 

1. variações na composição dos sólidos; 
2. inconsistência nos horários e temperaturas de fornecimento; 
3. risco de transmissão de patógenos quando não pasteurizado; 
4. impacto econômico, já que o leite poderia ser direcionado à comercialização. 

O uso de leite de descarte, frequentemente associado a resíduos de antibióticos e maior carga microbiana, não é recomendado devido aos riscos sanitários e de desempenho, além do favorecimento à resistência antimicrobiana. 

Sucedâneos lácteos 

Os sucedâneos são fórmulas desenvolvidas para substituir o leite integral, formuladas com ingredientes que buscam se aproximar do perfil nutricional do leite em proteína, energia e aminoácidos (NRC, 2001). Quando a proteína utilizada é de origem animal, os resultados de desempenho tendem a ser superiores em comparação aos sucedâneos com alta inclusão de proteína vegetal. 

Entre as vantagens do uso de sucedâneos estão: 

possibilidade de comercializar todo o leite produzido, aumentando a receita da fazenda; 

1. redução do custo da dieta líquida, já que muitas vezes o sucedâneo é mais econômico que o litro de leite vendido ao laticínio (Boito et al., 2015); 
2. padronização dos sólidos totais da dieta; 
3. maior flexibilidade nos horários de fornecimento; 
4. menor risco de transmissão de doenças. 

Pasteurização do leite 

A pasteurização é uma prática que reduz a carga microbiana do leite integral, diminuindo a incidência de enfermidades entéricas e respiratórias em bezerras. Estudos indicam melhor aproveitamento dos nutrientes e menor taxa de morbidade quando essa prática é adotada, sendo recomendada sempre que houver infraestrutura disponível na fazenda. 

A escolha entre leite integral e sucedâneo deve considerar fatores nutricionais, sanitários e econômicos. Independentemente da fonte utilizada, é essencial adotar protocolos consistentes quanto a volume, temperatura, frequência e qualidade do produto oferecido. Bezerras bem nutridas na fase inicial apresentam maiores chances de se tornarem vacas produtivas e com maior longevidade, impactando de forma direta o desempenho do rebanho leiteiro. 

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